terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira conveniente

Já pensei várias vezes comigo mesmo e observei que outras pessoas já observaram o mesmo: o ser humano prefere não encarar a realidade para evitar decepções e evitar ter que encarar as dificuldades surgidas com o fim da doce ilusão vivida até então.

A ilusão é muito boa. Viver um conto de fadas, em que nada está errado, é perfeito, mas só é perfeito até o momento em que alguém ou algo vem e mostra a realidade de fato. Aí, qual é a solução buscada pelo comodista? Não acreditar na verdade, independentemente de quão fidedigna seja a fonte. Alguns chamam de "tapar o sol com a peneira". Outros já disseram que "o pior cego é aquele que não quer ver". Se você observar bem ao seu redor (ou até com você mesmo) vai encontrar vários casos em que as pessoas preferem continuar se enganando a admitir que tudo ia errado, sofrer e buscar dar a volta por cima. Mas NENHUM caso é melhor exemplo dessa cegueira do que a do homem corneado!

Digo do homem mesmo, o macho, porque esse se acha acima do bem e do mal quando o assunto é romance. As mulheres têm o dom de perdoar (ou então se vingam e fingem que perdoaram), mas, o homem? O homem não. Esse, por saber que não aguentaria a humilhação de ser enganado pela mulher e perdoá-la, simplesmente faz de conta que tudo foi um mal entendido (ou vários mal-entendidos que aconteceram numa sequência de coincidências raríssimas, mas que "obviamente", foram apenas coincidências).

Se um amigo vem contar é porque ele é apaixonado por sua namorada. Se uma menina vem contar é porque ela é apaixonada por você. Se a mãe vê e conta é porque as mães são antiquadas e, certamente, se equivocou na interpretação do que viu, e assim por diante... sempre dá pra arrumar uma desculpinha.

Existem algumas explicações que podem ser consideradas para isso tudo. Uma das explicações é que: o homem encontra a mulher "ideal", passa 5 anos feliz (por exemplo), faz planos, já vislumbra os molequinhos brincando no quintal e um futuro feliz e aposentado ao lado da prenda que o acompanhou na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, honrando, teoricamente, o voto de fidelidade feito diante da cruz, ou apenas feito entre o casal.

Então vem alguém, ou "alguéns", e faz com que todos esses planos vão por água abaixo, com que o conto de fadas vire história de terror. Aí o comodismo fala mais alto. O cara simplesmente põe como absoluta a integridade da sua mulher, e 'ai' de quem disser do contrário. Afinal, entorpecido pelo amor, ele acha que não precisa de amigos nem de família. Aquele casal conseguirá atravessar qualquer barreira, apenas pela força que emana do coração. Pffff... Claramente patético pra quem vê de fora. Obviamente perfeito pra quem o vive.

Bem... essa explicação pode ser um dia provada por estudos científicos da ordem sócio-antopológica, ou até mesmo biológica, que detalharão as mutações que ocorrem no homem no período em que está sob efeito do amor. Mas, outra explicação que eu acredito é que, quando estão crescendo, os chifres rompem ligamentos nervosos entre os olhos e a parte do cérebro responsável pela razão. Esse rompimento é compensado naturalmente pelo organismo através do fortalecimento dos ligamentos entre os olhos e a parte responsável pela paixão.

P.S.: Claro que não são todos os homens que encaram a traição dessa maneira, alguns abençoados têm amor próprio maior do que a cegueira.

P.S. 2: Peço licença ao gênio Saramago para utilizar seu título em algo de tão pequena grandeza. :)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Em se tratando de ética...

Estamos vivendo um momento profundamente ético. Parece estranho falar assim, tendo em vista as atrocidades que todos os dias saem nos jornais- começando pela roubalheira desenfreada em Brasília. Ainda assim, penso que nunca nos questionamos tanto sobre o valor de nossos próprios atos como nos dias atuais. Quando falo em ética, estou falando no conjunto de valores que vêm de dentro de nós- diferentemente da moral, que é imposta pelo que está fora. Se antigamente tínhamos nossos destinos traçados pelo lugar geográfico e a posição social onde nascemos, hoje somos responsáveis por inventar nossa própria vida!

Se nós respeitarmos a distinção que é feita, de que a moral é o quem vem de dentro, podemos dizer efetivamente que vivemos o momento mais ético da história ocidental. Na ética moderna, o foro íntimo do sujeito é o que em última instância deve decidir o que é bem e o que é mal; o que é certo e o que é errado. O sujeito que age corretamente porque está obedecendo a uma série de mandamentos, um código de costumes(seja ele religioso ou não), não é ético por definição. Porque ele só obedece. Ético é um sujeito que se questiona sobre o valor dos seus atos.

Um exemplo(religioso) de um sujeito antiético que todo mundo conhece é Abraão, do ponto de vista moderno ele é um sujeito profundamente antiético. Ele recebe uma ordem de Deus para matar seu filho. Fora o fato de que ele pode ter se atormentado bastante antes de levantar o braço para fincar a faca no peito do filho, sem dúvida ele é o protótipo do sujeito antiético porque simplesmente ele não questiona o valor de seu ato, quem muito se assemelha a ele são os militares argentinos que torturavam por obediência devida ou dos carrascos nazistas que achavam que não tinham que questionar as ordens que vinham de cima, ou até mesmo um terrorista islâmico nos dias atuais, que deve colocar uma bomba num avião porque assim determinou o seu líder.

Nota-se que ser sujeito no sentido moderno é muito pesado porque significa algo relativo em relação aos nossos antecedentes. Um sujeito clássico tinha seu destino traçado pelo lugar onde ele nascia. Se o pai fosse um artesão, ele também teria que ser um. A mobilidade era muito rara. Já o sujeito moderno não só pode como também deve inventar a sua própria vida. Ele se define muito mais pelos seus atos e suas potencialidades futuras do que pelos seus antecessores e o berço onde nasceu. Isso faz com que, sem dúvida, nós vivamos num campo de incerteza muito maior. O sujeito moderno não responde à necessidade de um destino, mas à liberdade de uma escolha. Isso produz ansiedade e cria ondas brutais de nostalgia, é por isso que nos sentimos aliviados ao encontrarmos alguém que nos diga o que fazer.

Fala-se com muita frequência que somos uma sociedade decadente. Nós adoramos esse discurso da decadência. Mas é uma balela. Não somos uma sociedade e uma cultura em declínio. Nem um pouco. Nunca fomos tão profundamente éticos como agora, nunca nos questionamos tanto sobre o valor de nossas escolhas; e a escolha de nossos valores.

p.s- Ética é uma palavra que vale por mil imagens, a imagem do começo do texto é do filósofo grego Aristóteles, homenagem merecida.

p.s2-Meu próximo texto vai ser dedicado aos valores, não necessariamente os monetários.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Devolvam meu tempo perdido!

Sabe aquela sensação que a pessoa sente de vez em quando de que perdeu um certo tempo fazendo algo que definitivamente não foi muito interessante? A gente fica com a certeza de que 99,9% das coisas seriam empregos melhores para o tempo perdido.

Pois é. É por isso que eu inicio a partir de hoje a campanha "Devolvam meu tempo perdido!"

Rapaz, é indignante saber que se foi praticamente enganado por alguém que, por exemplo, manda a gente clicar em um link do G1 (por exemplo também, não recebemos nada do site pra fazer propaganda :~ ), aí a pessoa vai bem empolgado, achando que vai acrescentar alguns gramas de saber à sua cabeça e, quando vê, se depara com: "Planta escreve blog no Japão". (Imagino os tipos de "pensamentos" da planta: "Poxa, hoje foi muito legal, tomei um suco de clorofila esperto e fiz meia hora de fotossíntese - sabe como é, a gente tem que tomar um bronze. - ainda paquerei com um Cravo que tava a 3 jarros de distância, mas ele só olhou e não veio até a mim.")

Já não bastasse ter gente desocupada suficiente pra mentir dizendo que uma planta tá se expressando por meio de um blog (Já vi todo tipo de gente escrevendo blog...cegos, surdos...mas, planta?), ainda tem gente que veicula isso em um site de importância nacional e, o pior de tudo, chega alguém pra você e diz: "Olha que massa!!" Às vezes eu fico pensando que é uma brincadeira de mau gosto, ou que me deram o link errado...

Poxa, sinceramente, certas coisas que aparecem na TV, nas revistas e nos jornais nos tomam um tempo que a gente poderia usar pra outras coisas mais relevantes. Ao invés de acompanhar a uma suposta e interessante reportagem de 3 minutos falando que a filha de Carla Perez vomitou ao ir na montanha-russa eu poderia estar estalando meus 10 dedos das mãos e ainda sobraria tempo para...hmmm... trocar uma lâmpada? Alguém tem dúvida do que seria mais prazeroso e produtivo?

Meses de nossas vidas seriam melhor aproveitados caso infelizes não tivessem noticiado coisas tão inúteis e "amigos" inescrupulosos não tivessem difundido tais notícias.

Só que aí é que está! A gente nunca pensa nisso antes de ir ver um link; a curiosidade fala mais alto (também porque ninguém quer correr o risco de ficar sem conhecer um "Jeremias Muito Louco", "O jardineiro é jeosuis e as árveres semi nozes", "O rei do elogio", e tantas outras coisas que, por incrível que pareça, são totalmente insanas, mas não te fazem perder tempo e sim ganhar alguns momentos de risadagem). Mas, no caso das coisas que nos apunhalam com o golpe do tempo perdido, a gente só se dá conta depois que o tempo já se foi, depois que já fomos ludibriados. E, como todos sabemos, o tempo não volta nunca (ou volta? :O).

E é por essa irreversibilidade do tempo que o título da campanha é meramente figurativo. O Tempo não voltará de fato, mas o que nós queremos na verdade é que nos poupem de tanta coisa inútil em ocasiões futuras. Já que meu tempo passado já se foi, engrandeçam meu futuro para que ele compense a fração de passado perdida. Ou, se quiserem insistir, pelo menos criem seções nos sites, revistas e jornais intituladas "Inutilidades", aí quem gostar disso vai lá, clica e passa o dia todinho se deleitando.

Ajude você também para conseguirmos um mundo melhor, com menos tempo jogado fora. Caso você clique em um link inútil, poupe seus amigos desse desprazer.

P.S: Tomara que ninguém, depois de ler esse post, venha me dizer: "Devolva meu tempo perdido!"

P.S. 2: Tomara também que ninguém venha aqui e comente que acessou o blog da planta e ela tem pensamentos mais inteligentes do que os nossos.

sábado, 1 de novembro de 2008

A Tonga da Mironga do Kabuletê...

Eis que o poeta enlouquece e do devaneio faz-se a canção. Já diria aquela criatura efêmera de Brejo do Cruz, José Ramalho Neto, “Há meros devaneios tolos a me torturar”. [Aliás, se alguma alma lúcida conseguir traduzir a música “Chão de Giz”, eu prometo que a jogo num pano de guardar confetes]. Mas enfim, entender pra quê? Se até Claudinho e Bochecha já controlam o calendário sem utilizar as mãos.

Musicalidade é assim. O compositor viaja, o escutador “reviaja”, uns não entendem, outros acham que entendem e mais alguns têm certeza que entendem [e ainda ousam explicar, oh céus!]. Eu sou daqueles que procuro sentido em tudo. Já tentei em todos os meus diferentes estados etílicos, interpretar o que aquele alagoano do cabelo engraçado quis dizer com: “Açaí, guardiã, zum de besouro, um imã, branca é a tez da manhã” [Uma açaí fêmea, guardiã dos besouros, quando escuta um zumbido, é magneticamente atraída para que branca seja a pela da manhã! É fantástico!]. Mas claro, se é Djavan então não deve ser algo menos genial de que Zeca Baleiro e sua “Vida vida, noves fora, zero!”.

Porém, como eu sou cabra da peste [apesar de colher as batatas da terra], não desistirei jamais de buscar explicações para este mundo paralelo [Quiçá, uma dia, a fúria desse front virá]. Continuarei viajando nesse Brasil brasileiro do pleonasmo [aprendi as figuras de linguagem, ein Elvis!? Hehe!], tentando entender porque Ary Barroso tinha um coqueiro que dava coco e porque o negão queria pegar a nega do cabelo duro pra passar batom de cor violeta [Na boca e na bochecha! Pega ela aíííííííi....].

Enfim, neste confuso lar de idéias ininteligíveis, me despeço da sala [sem ela, tem janela, inclina em cerca de atenção] e peço que todos vocês se inquietem na página de comentários. Afinal, como diria Vinícius de Morais:

“Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê”


[No mais... estou indo embora, Baby, Baby... ;)]